so long, new love
“então tá, fica assim! até um dia qualquer”, eu disse. e saí pela porta com as pernas bambas. ela visivelmente não queria aquilo, não queria tanto quanto eu e, assim como eu, ela só queria voltar; mas sua boca sussurrou só um “tudo bem” também. a gente é feito pra acabar, pensei.
um adeus demorado, como das outras vezes. como todos os ensaios para o fim.
a cada batida do meu coração eu podia sentir um soco no estômago e a cada piscar de olhos -aqueles olhos embaçados e embriagados de tanto chorar- era como um tapa na cara. doía. e era uma dor que eu nunca quis sentir e nunca quis que ela sentisse. pra ser sincera, aquela foi uma dor que eu não gostaria que ninguém no mundo sentisse.
eu olhava no fundo daqueles olhos e podia enxergar um filme todo. um filme sem roteiro nem direção; um filme que não tinha final escrito, mas que os créditos já estavam prontos para subir. eu não conseguia fazer nada além de olhar fixamente pra ela. quis fitar milímetro a milímetro de todo seu corpo, quis gravar tudo aquilo pra poder me lembrar mais tarde.
eu estava ali, parada, e cada átomo que existia em meu corpo sabia que eu não queria virar as costas e ir embora e deixar tudo aquilo pra trás. eu não concordava em discordar daquele sentimento que eu nunca entendi direito e que não tinha nome, mas tinha endereço certo pra chegar.
eu não queria aceitar tudo aquilo, mesmo que aquela decisão tenha sido minha, mesmo que eu soubesse que nada daquilo poderia ser evitado, mesmo sabendo que cedo ou tarde a dor viria. relutei até o último minuto; agora chega, tá na hora de ir.
“tudo bem, um abraço”, pensei. um abraço e fica tudo resolvido. nada de ressentimento. mas no fundo eu sabia qualquer descuido poderia colar de novo todos aqueles cacos perdidos entre nossos corpos e fazer tudo acontecer novamente.
involuntariamente meu peito se encontrou ao dela e nossos braços se entrelaçaram rapidamente. tudo de novo, não. é sempre assim. prometi que aquele seria o último, o último. nem um a mais. tá tudo feito.
prometi que quando eu saísse por aquela porta eu nunca mais voltaria. e foi. me soltei e continuei olhando fixamente em seus olhos. estava dizendo adeus silenciosamente.
e assim foi. virei as coisas e saí. a chuva torrencial banhava a cidade e meu casaco também, entrei no carro com uma mochila cheia de memórias e levei no peito um coração partido e uma saudade imensurável. olhei pra trás e vi ela se recuando até a porta. ficou ali, inerte, me vendo seguir. sem qualquer reação.
levei comigo fotografias, breves histórias, um futuro que virou passado e um coração cheio de amanhã. e no carro, a nossa música tocava abafada pelo barulho dos pingos no retrovisor.
eu sempre fui boa em cumprir promessas, mas aquelas eu quebraria sem pensar duas vezes, pensei enquanto voltava pra casa sozinha.